Mãe, ainda que quisesse, eu jamais esqueceria você. Me lembro todo dia o quanto continua viva em mim e lembro que sempre quis herdar a imagem do Cristo de Maria, que ficava ao lado da sua cabeceira.
Me lembro detalhadamente da casa em que morei. Como gostava de subir a escada aos pulos e da força da madeira daquela porta, quando você abria, mãe; lembro muito das enchentes que acompanhava pelas janelas com você; daquele cheiro bom que saía da sua cozinha, com comida fresca nas panelas.
Lembro de como era bom você escrever nas minhas costas e de quando perdi essa fonte de carinho. Eu me lembro de negar a mamadeira, porque era a única chance que tinha de ficar no seu colo por mais tempo. Dos conselhos escolhidos à dedo, para serem bem ouvidos e guardados.
Me lembro de como você tinha prazer de cuidar da gente, das inúmeras vezes que se deixou pra depois, generosamente. De quantas vezes o seu ‘eu te amo’, saiu em forma de comida, roupa, atenção.
Lembro o quanto sempre me senti segura, tendo você como minha. O quanto não foi fácil aceitarmos sua vulnerabilidade; como minhas filhas puderam contar com a vó. Eu me lembro de você brincando com os seus bisnetos; de quando emprestava o seu tablet e os ensinava a jogar paciência.
Me lembro o quanto foi lindo, intenso e difícil se despedir de você.
Vou me lembrar da dona Ivone. Ela vai seguir viva em mim. Vamos ao primeiro 02/02 sem ela. Texto escrito na aula “Cadernos e Memórias”, da @sutilezasatomicas.
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