Mãe, é tão difícil escrever pra você; às vezes penso que todas as palavras deveriam ser suas, de você pra mim. Olho pra minha barriga, que estampa o meu feminino e fico pensando com quem aprendi os jeitos e os trejeitos.
Sinto que, nesse momento, sou ao mesmo tempo um fragmento da criação e um veículo da eternidade. Sinto que meu corpo encerra mais um ciclo que lhe é próprio. Entretanto, não foi o meu desejo que marcou essa existência? Como posso compreender o cosmos, intimidar-me com as estrelas, se nem consigo compreender os átomos do meu corpo?
Há coisas, mãe, que não cabem em palavras. A experiência de viver em outra pessoa e a partir de outra história é uma delas. Sinto que amadurecer implica em saber dolorosamente que você não pode me dar tudo que preciso e veja, mãe, com meus filhos vou ter que suportar todas as cobranças que eu mesma te fiz... até o amadurecimento deles para essa mesma aceitação. Fico até imaginando o que eles terão a resgatar de meu, de seu, de nosso, através das suas próprias procriações.
Quero o teu abraço, afinal hoje sou mãe, porque fui e já posso assumir que sempre serei sua filha.
Te desejo mãe, um dia muito especial.
Um beijo imenso.
Trechos de textos extraídos e combinados do livro “Nove luas, lua nova: o espírito feminino
revelando a experiência de gerar vida”, de Maria Eliza Maciel, Vania de Freitas Maciel e Lúcia Maria Pires da Silva.
Desenho de Bete Branco e design feito por Sky Rocket.
Seguimos juntos.
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